segunda-feira, junho 30, 2008

Sem folego.

...
exausta, ergo-me ainda devagar, abro instintivamente os olhos. Esboço cenários no auge de um branco que me deixa só perante um horizonte desconhecido, a volatilidade de qualquer inicio criativo. Sei que sou forte, e a tela pede urgente um novo traço, mas a instabilidade do momento assusta-me e lança-me á deriva. Uma nova atitude surge de uma necessidade quase sufocante. Vou fingir mais uma vez, que sou feita de uma matéria sólida e que nada me derruba. Sim a maturidade exige experiencia, e esta surge depois de alguns erros, inúmeras decepções,…, vou acreditar que a experiencia de vida nos eleva, que é muito mais que um emaranhado de lutas e de linhas curvas, que nos encaminham todas na mesma direcção.

Inexpressiva, e enfurecida, atiro com todas as tintas que ainda me restam de explosão, sorrio, rio do meu vazio, no meu silêncio acredito que ainda não passo de uma criança vestida de mulher, cheia de dúvidas, espero, espero nunca perder este sorriso alucinado que me impeliu sempre na direcção oposta da manada, incansável procura de um não sei ainda o quê.

No final do dia, agora dou-me a umas paginas de um livro mais técnico, não ando muito romântica, não, não estou séria, nem chateada, eu diria concentrada, centrada, raramente ligo o rádio, ouço-me, não corro, ando mais de vagar, não escuto o barulho dos carros, não tenho vontade de dançar, dispenso birras, rejeito a poluição no ar, não tenho tempo para dramas emocionais nem para os de sempre lamentos egocêntricos, continuo prática, dispenso teorias enlatadas, e se me vierem com conversas, que me tragam algo de novo, sintomas positivos e historias bonitas, ando saturada de tanto pessimismo e crise existencial.




6 comentários:

Patti disse...

Vaya mujér! Até que enfim!

E já teres descoberto isso tudo é o maior dos teus passos. Mesmo que lentos e com pouca vontade. São passos. Iguais aos outros.
Já sabes por onde não queres ir, o que não gostas e o que não queres.

Só falta o resto ...
Mas como já filtras-te, vais ver que tudo te vai aparecendo.

Apita se precisares.
Eu vou estando por aqui.

Su. disse...

Bolas, como é que alguém de tão longe me consegue entender no meio de um esboço, melhor do que os que estão perto!

Cumplicidade de mulher(?), não sei, acho apenas que uns são mais atentos que outros, acho q sim, é isso... bem, ou então é das Patis! Sim, não fosse a minha mana do coração uma Pati tb... pronto, tudo dito!

Obrigada pelo carinho.

Beijo Patti.

Su. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vanuza Pantaleão disse...

Também fico assim.Também a vida me dá caminhos e não posso segui-los!
Prazer
te conhecer!

Avid disse...

Lindo regresso, qual fenix... bem vinda, ate me atrevi a trazer um presente:

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

"O Haver"-Vinicius de Moraes

Bjs meus

Storm disse...

Olá!
Bolas, este post poderia perfeitamente ter sido escrito por mim...
saber o que não se quer é bom, muito bom, é um bom começo! Tanta gente que sabe o que quer mas não sabe o que não quer. Eu estou numa que até prefiro saber o que não quero, penso que assim faço melhores escolhas tendo em conta a minha vida de agora :)
Tenho andado com muito trabalho e pouca vontade de pensar também, por isso um certi afastamento do blog.
Quanto ao home... ui! tens tempo de ler? são necessárias muitas linhas... de facto sinto necessidade de escrever ou falar sobre isso mas...
beijos :)