sexta-feira, novembro 24, 2006

Receita Para um "Jet-set" nacional

Já vimos que, em Moçambique, não é preciso ser rico. O essencial é parecer rico. Entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça.No nosso caso, a aparência é que faz a essência. Daí que a empresa comece pela fachada, o empresário de sucesso comece pelo sucesso da sua viatura, a felicidade do casamento se faça pela dimensão da festa. A ocasião, diz-se, é que faz o negócio. E é aqui que entra o cenário dos ricos e candidatos a ricos: a encenação do nosso "jet-set".O "jet-set" como todos sabem é algo que ninguém sabe o que é. Mas
reúne a gente de luxo, a gente vazia que enche de vazio as colunas sociais. O jet-set moçambicano está ainda no início. Aqui seguem umas dicas que, durante o próximo ano, ajudarão qualquer pelintra a candidatar-se a um jet-setista. Haja democracia!
As sugestões são gratuitas e estão dispostas na forma de um pequeno manual por desordem alfabética: Anéis - São imprescindíveis. Fazem parte da montra. O princípio é: quem tem boa aparência é bem aparentado. E quem tem bom parente está a meio caminho para passar dos anéis do senhor à categoria de Senhor dos Anéis O jet-setista nacional deve assemelhar-se a um verdadeiro Saturno, tais osanéis que rodeiam os seus dedos. A ideia é que quem passe nunca confunda o jet-setista com um magaíça*, um pobre, um coitado. Deve-se usar jóias do tipo matacão, ouros e pedras preciosas tão grandes que se poderiam chamar de penedos preciosos. A acompanhar a anelagem deve exibir-se um cordão de ouro, bem visível entre a camisa desabotoada.Boas maneiras - Não se devem ter. Nem pensar. O bom estilo é agressivo, o arranhão, o grosseiro. Um tipo simpático, de modos afáveis e que se preocupa com os outros? Isso, só uma pessoa que necessita de aprovação da sociedade. O jet-setista nacional não precisa de aprovação de ninguém, já nasceuaprovado. Daí os seus ares de chefe, de gajo mandão, que olha o mundo inteiro com superioridade de patrão. Pára o carro no meio da estrada atrapalhando o trânsito, fura a bicha**, passa à frente, pisa o cidadão anónimo. Onde os outros devem esperar, o jet-setista aproveita para exibir a sua condição de criatura especial. O jet-setista não espera: telefona. E manda. Quando não desmanda.Cabelo - O nosso jet-setista anda a reboque das modas dos outros. O que vem dos americanos: isso é que é bom. Espreita a MTV e fica deleitado com uns moços cuja única tarefa na vida é fazer de conta que cantam. Os tipos são fantásticos, nesses video-clips: nunca se lhes viu ligação alguma com o trabalho, circulam com viaturas a abarrotar de miúdas descascadas. A vida é fácil para esses meninos. De onde lhes virá o sustento? Pois esses queridos fazem questão em rapar o cabelo à moda militar, para demonstrar a sua agressividade contra um mundo que os excluiu mas que, ao que parece, lhesabriu a porta para uns tantos luxos. E esses andam de cabelo rapado. Por enquanto.Cerveja - A solidez do nosso matreco vem dos líquidos. O nosso candidato a jet-setista não simplesmente bebe. Ele tem de mostrar que bebe. Parece um reclame publicitário ambulante. Encontramos o nosso matreco de cerveja na mão em casa, na rua, no automóvel, na casa de banho. As obsessões do matreco nacional variam entre o copo e o corpo (os tipos ginasticam-se bem). Vazamcopos e enchem os corpos (de musculaças). As garrafas ou latas vazias são deitadas para o meio da rua. Deitar a lata no depósito do lixo é uma coisa demasiado "educadinha". Boa educação é para os pobres. Bons modos são para quem trabalha. Porque a malta da pesada não precisa de maneiras. Precisa de gangs. Respeito? Isso o dinheiro não compra. Antes vale que os outros tenhammedo.
Chapéu - É fundamental. Mas o verdadeiro jet-setista não usa chapéu quando todos os outros usam: ao sol. Eis a criatividade do matreco nacional: chapéu ele usa na sombra, no interior das viaturas e sob o tecto das casas. Deve ser um chapéu que dê nas vistas. Muito aconselhável é o chapéu de cowboy, àla Texana. Para mostrar a familiaridade do nosso matreco com a rudeza dos domadores de cavalos. Com os que põe o planeta na ordem. Na sua ordem.
Cultura - O jet-setista não lê, não vai ao teatro. A única coisa que ele lê são os rótulos de uíque. A única música que escuta são umas "rapadas ehip-hopadas" que ele generosamente emite da aparelhagem do automóvel para toda a cidade. Os tipos da cultura são, no entender do matreco nacional, uns desgraçados que nunca ficarão ricos. O segredo é o seguinte: o jet-setista nem precisa de estudar. Nem de ter Curriculum Vitae. Para quê? Ele não vaiconcorrer, os concursos é que vão ter com ele. E para abrir portas basta-lhe o nome. O nome da família, entenda-se. Carros - O matreco nacional fica maluquinho com viaturas de luxo. É quase uma tara sexual, uma espécie de droga legalmente autorizada. O carro não é para o nosso jet-setista um instrumento, um objecto. É uma divindade, um meio de afirmação. Se pudesse o matreco levava o automóvel para a cama. E, de facto, o sonho mais erótico do nosso jet-setista não é com uma Mercedes. É, com um Mercedes. Fatos - Têm de ser de Itália. Para não correr o risco do investimento ser em vão, aconselha-se a usar o casaco com os rótulos de fora, não vá a origem da roupa passar despercebida. Um lencinho pode espreitar do bolso, a sugerir que outras coisas podem de lá sair.Simplicidade - A simplicidade é um pecado mortal para a nossa matrecagem. Sobretudo, se se é filho de gente grande. Nesse caso, deve-se gastar à larga e mostrar que isso de país pobre é para os outros. Porque eles (os meninos de boas famílias) exibem mais ostentação que os filhos dos verdadeiros ricosdos países verdadeiramente ricos. Afinal, ficamos independentes para quê?Óculos escuros - Essenciais, haja ou não haja claridade. O style - ou em português, o estilo - assim o exige. Devem ser usados em casa, no cinema, enfim, em tudo o que não bate o sol directo. O matreco deve dar a entender que há uma luz especial que lhe vem de dentro da cabeça. Essa a razão dochapéu, mesmo na maior obscuridade.Telemóvel - Ui, ui, ui! O celular ou telemóvel já faz parte do braço do matreco, é a sua mais superior extremidade inferior. A marca, o modelo, as luzinhas que acendem, os brilhantes, tudo isso conta. Mas importa, sobretudo, que o toque do celular seja audível a mais de 200 metros. Quem disse que o jet-setista não tem relação com a música clássica? Volume no máximo, pelo aparelho passam os mais cultos trechos: Fur Elise de Beethoven, a Rapsódia Húngara de Franz Liszt, o Danúbio Azul de Strauss. No entanto, a melodia mais adequada para as condições higiénicas de Maputo é o Voo doMoscardo. Última sugestão: nunca desligue o telemóvel! O que em outro lugar é uma prova de boa educação pode, em Moçambique, ser interpretado como um sinal de fraqueza. Em Conselho de Ministros, na confissão da Igreja, no funeral do avô: mostre que nada é mais importante que as suas inadiáveis comunicações. Você é que é o centro do universo!
Mia Couto

quarta-feira, novembro 22, 2006

vicios despretensiosos,

Chegar a casa,
livrar-me de todos os apetrechos do dia,
tomar um banho e dar-me a uma novela que me faça rir,
é sem duvida a melhor das missas!

e pq n?

Tolstoi disse:

"O unico prazer verdadeiro é o da actividade criadora"





terça-feira, novembro 21, 2006

Chocolate quente


Derreter (ao lume) 6 quadrados de chocolate amargo (por manteiga ajuda) e juntar um copo de leite, deixar tudo ferver, beber ás 5 da manhã no pico do verão. Não há nada como a falta de sono por café em excesso. To quente. Sem pachorra pra tanta falta de sono.

domingo, novembro 19, 2006

Embondeiro

... tenho uma verdadeira paixão por arvores, encanto-me desde a mais simples até á mais exuberante.

E, claro que o meu primeiro desenho foi uma arvore, e, a primeira vez q sai á rua para desenhar, lá me estagnei de lapis em punho e cheia de coragem á frente de uma dignissima arvore, uma acácia repleta de flores.

Quem conhece Maputo (capital de Moçambique), sabe á partida que uma das caracteristicas mais bonitas da cidade é estar repleta de acácias, são imensas, espalhadas pelas avenidas, repletas de um esplendor muito próprio de ser grande e generoso.

No meu casamento, diferenciei as mesas com nome de arvores... coisas deu!

Blablabla enfim, para quem não conhece, a foto é de um embondeiro, uma arvore centenária muito comum no norte de Moçambique, conhecida pelo seu tamanho gigante, pela sua figura imponente de estar.

mas,
Amanhã á mais! começou a chover! fui!

:)

quinta-feira, novembro 16, 2006

M de Mudança


No início desta semana, ouvi algo muito interessante, algo que nunca tinha ouvido antes, mas que na realidade sempre esteve presente em mim e assim me deixou a pensar até hoje no assunto.

… Moçambique, ao contrario do que dizemos é um pais rico, temos uma terra fértil, temos um mar imenso, temos praias maravilhosas, temos um clima excelente, temos ouro, pedras preciosas, temos agua, temos fontes de energia que não só nos alimenta a nós como aos nossos vizinhos, temos carvão mineral, temos gás natural, temos tudo e mais alguma coisa para sermos perfeitamente independentes e livres e ricos…

Mas, olho pela janela e vejo gente pobre, muita gente, muito pobre, e de repente fico triste… triste por haver tanta gente tão pobre.

Mas, levanto-me, pego num livro de um homem que me inspira e leio alto:

“Não pode haver uma revolução política, não pode haver uma revolução social, não pode haver uma revolução económica.
A única revolução é a revolução do espírito; é individual.
E se milhões de indivíduos mudarem, a sociedade mudará como consequência disso e não o oposto. Não se pode mudar a sociedade primeiro e esperar que os indivíduos mudem depois.”

Osho


Vou continuar a pensar neste assunto, vou tentar não me esquecer que sou irremediavelmente moçambicana e que vale a pena lutar por um futuro melhor.

Saudade


Sinto


na inveja da valsa


a saudade


abraçando em ti


a viagem que és


em cada olhar


partindo


e regressando


com a certeza gravada


na brisa


das nossas recordações.




Amanhã


o futuro será


o Sol abrasador


da canção dos teus labios


executando a marrabenta


das nossas


tentações.

Silvestre Sechene (Maputo - 2004)

quarta-feira, novembro 08, 2006

Turismo?

Bazaruto

Ao telefone:
- Oh Maria, mas afinal vens ou não vens cá?
- Eu adorava ir, tu sabes! Estou cheia de saudades, já me via na Ponta do Ouro a apanhar aquele sol e a curtir aquela paz… o João também estava entusiasmado em conhecer as nossas praias! …mas, bolas, só a passagem de avião é o mesmo preço que ir uma semana ao Brasil com tudo pago! Puts, adoro Moçambique, mas estes preços da TAP são de loucos!
Agora, aqui entre nós, que ninguém nos houve… sabemos que a TAP tem o monopólio dos nossos céus, mas caneco, o que é demais mete nojo… gostava mesmo que os Senhores Deuses lá de cima, se sentassem á mesa, e os colocassem na linha, afinal sendo nós um pais com tanta pobreza, um aumento de turismo até que traria mais valias para todos… ou não!!?
Senhores temos praias de sonho, podemos vender pacotes de paz ao redor de paisagens encantadas! Oh Senhores!

segunda-feira, novembro 06, 2006

...eu beijo tu beijas ele beija...

...to calminha calminha...
vou pra casa,
acender uma vela,
pousar a minha asa,
preparar uma tela,
beijar a vida.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Essencia


Bem no meio, no meu centro, no meu mais que meio… sou a sensibilidade em estado liquido, perfeitamente light, minimalista pura, sem qualquer duvida do que me inspira e me da vida e me faz rir e me faz ser… muito eu.

Depois, mergulho á tona, evoco a superfície, e perco-me no meio de mil e um variáveis que me trazem caos, saio de mim e afundo-me na falta de lucidez que me retira o ar, me aperta e me oferece uma claustrofobia que teimo em controlar.

Estou errada, ninguém controla absolutamente nada.